25 maio 2006

Artesão: vida, cultura, paixão e negócio

De origem italiana, a palavra artesão pode ser traduzida por “artista que exerce por conta própria uma arte produtiva, individual e manual”.

Da habilidade das mãos desses artistas populares nascem rendas, bordados, cerâmicas, cestarias, tecelagens, móveis, brinquedos e tantos outros objetos. A partir do talento de pessoas jovens, e nem tão jovens, de homens, mulheres e crianças se constrói a história do artesanato alagoano. Na vida desses artesãos, o prazer pela arte e as tarefas do dia-a-dia misturam-se em harmonia. Semeando sonhos, conquistando novos espaços e reconhecimento, famílias inteiras e diversas comunidades trabalham na atividade.

Tradição
A arte de transformar materiais como barro, palha, retalhos, bambu, em objetos de decoração e utilitários é uma tradição que faz parte da cultura e história de Alagoas.

Na cidade de Boca da Mata, a 68 km de Maceió, a família “Marinheira” é um dos mais significativos grupos de escultores populares. O mestre Manoel da Marinheira, como era chamado o artesão, pioneiro na fabricação de esculturas em madeira com formas de animais da fauna brasileira, passou para os filhos, genros e sobrinhos o que hoje faz parte de identidade da comunidade.

André, Severino, Antônio, Maria Cícera, Alexandre, Cícero, Zeca e Valdelon são os seguidores da tradição familiar. As peças como tigres, leões, leopardos, girafas e búfalos encantam admiradores de todas as idades.

André da Marinheira, 35 anos, herdou o talento do pai e desde os 12 anos trabalha na arte de transformar madeira em animais. Além de inspiração e conhecimento da técnica, o trabalho do artesão exige muita paciência e traquejo para manusear equipamentos como moto-serra, lâminas e lixadeiras. “Ninguém aprende esse trabalho, já nasce sabendo fazer e é só praticar”, afirma André.


Paixão e trabalho
Mas se há quem diga que a arte não se aprende, outros podem afirmar que o amor pela cultura popular pode fazer nascer talentosos artistas. Ana Lúcia dos Santos, 31 anos, casada, mãe de dois filhos de 11 e 7 anos, desenvolveu a habilidade de transformar palha em artesanato há pouco mais de cinco anos.

Moradora do município de Feliz Deserto, a 118 km da capital, Ana produz peças em palha de taboa, como cestas, bolsas, luminária, pufes, porta-jóias e tudo mais que a criatividade puder fazer. Presidente das Artesãs Associadas, grupo composto por 25 artesãs do município, carrega consigo o compromisso e o amor pelo seu trabalho; uma dedicação que já cativou toda família. “Hoje, até meus filhos já fazem algumas peças pra me ajudar”, afirma Ana Lúcia.

Entre a rotina de artista, dona de casa e líder comunitária, ela faz planos de ampliar a Associação e melhorar a renda das artesãs. “Vamos fazer um curso para ensinar mais 10 mulheres como trabalhar com a palha e nos preparar para os meses em que os pedidos aumentam”.

A renda gerada na Associação é dividida entre o grupo e cada artesã recebe cerca de R$ 260 por mês.


Proart

Em Alagoas, aos poucos essa tradição vem sendo transformada em uma alternativa para a geração de renda.

O estímulo ao associativismo, produção e comercialização dos produtos artesanais do Estado é uma das formas de consolidar a atividade na economia local. Visando desenvolver as habilidades empreendedoras entre os artistas alagoanos, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Alagoas (Sebrae/AL) e diversas instituições parceiras trabalham na construção de um ambiente favorável ao crescimento e sustentabilidade de pequenos negócios em dezenas de comunidades.

Com ações voltadas para gestão empresarial, melhoria dos produtos e a inserção competitiva no mercado, o Sebrae, por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Artesanato em Alagoas (Proart) desde 2002, tem no artesanato uma de suas prioridades.

De acordo com Givanilda Lisboa, uma das consultoras do Proart, por valorizar a identidade de cada comunidade, o programa vem atraindo cada vez mais os artesãos. “Valorizamos o produto deles e principalmente seu estilo de vida. Com isso há uma mobilização maior, a produção cresce e grupos de trabalho surgem”, ressalta a consultora.

Identificar as características individuais de cada comunidade e respeitar suas tradições, é um fator importante para garantir o desenvolvimento sustentável do artesanato. Para tanto, o Sebrae realizou a primeira pesquisa para identificação do perfil do artesanato e cadastro dos artesãos.

A iniciativa partiu da necessidade de se conhecer os artistas alagoanos e o tipo de arte produzida em Alagoas, para melhorar o desenvolvimento das atividades voltadas ao estímulo e apoio ao produtor.

De acordo com Rita Gonçalves, gestora do Proart no Sebrae/AL, o trabalho resultou no direcionamento de ações e na redução de esforços. “Com isso, já pudemos melhorar a comercialização de produtos artesanais tanto no Brasil como no exterior e possibilitamos a criação de associações, a conseqüência disso foi a melhoria da qualidade de vida e a alto estima de cada artesão”, ressalta Rita.

Segundo dados do Sebrae, em 2004, a comercialização do artesanato produzido nas 14 comunidades trabalhadas pelo Proart, gerou R$ 97 mil; um aumento de 16,4% em relação a 2003, quando foram contabilizados R$ 81 mil. Ao todo são 20 associações em plena atividade nos municípios de Água Branca, Batalha, Cajueiro, Coruripe, Delmiro Gouveia, Feliz Deserto, Maceió, Marechal Deodoro, Pão de Açúcar, Penedo, Piranhas, Porto Real do Colégio, São Sebastião e União dos Palmares.


Em 2005, outra iniciativa adotada pelo Sebrae, para estimular a comercialização do artesanato alagoano foi a criação do Catálogo de Artesanato de Alagoas.
Com lançamento previsto para maio, a publicação contempla em 86 páginas todos os tipos de artesanatos produzidos pelos artesãos do Estado em variados materiais, formas, estilos, cores e formatos.

“Esse catálogo se propõe a estimular a comercialização dos produtos tipicamente alagoanos, valorizando seus detalhes e promovendo o resgate da cultura artesanal”, afirma Osvaldo Viegas, diretor técnico do Sebrae/AL.


Conheças os artesanatos produzidos em Alagoas

Água Branca – Cestaria em palha de Ouricuri e Cipó.
Batalha - Sandálias Sertanejas em couro.
Cajueiro – Colchas de retalho e artesanato em bambu.
Coruripe (Povoado Pontal do Coruripe) - Cestaria em palha de Ouricuri e artesanato em bambu
Delmiro Gouveia - Tecelagem
Feliz Deserto – Cestaria em palha de taboa
Maceió (Pontal da Barra) – Filé
Maragogi – Artesanato em fibra da bananeira e quengo de côco
Marechal Deodoro – Filé e bordados Labirinto
Palmeira dos Índios – Artesanato em palha da bananeira e produção de papel reciclado.
Pão-de-Açúcar (Povoado Ilha do Ferro) – Bordado Boa-noite
Penedo (Povoado de Marituba do Peixe) - Cestaria em palha de ouricuri
Piranhas (Povoado de Entremontes) - Bordados Rendendê e Ponto de Cruz
Porto Real do Colégio – Bordados Rendendê e Ponto de Cruz
São Sebastião – Renda de bilro
União dos Palmares – Artesanato em cerâmica e bambu



(tenho uma paixão por este texto... publicado no site www.al.sebrae.com.br)

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