09 março 2007

Breve ensaio sobre a saudade

Por Adriana Thiara

Solitate, solidade, miss, heimwee, gesundheit, mancare, nostalgia, ou simplesmente, saudade. Descrita no Aurélio como lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes e extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las.

Sábio conterrâneo Buarque de Holanda deve ter sentido muita saudade. Mas, mal sabia ele que saudade é a sétima palavra mais difícil de se traduzir, de acordo com um estudo da BBC de Londres, realizado em 2004.

Em bom português, saudade é um substantivo e classificada como abstrato, que designa sentimento, emoção, qualidade ou algo que não pode existir.

Na prática, saudade é algo concreto, o qual classificamos como falta, distância, lembrança, melancolia, tristeza.

Perguntei aos mais chegados do que eles sentem saudade. Da infância. Foi unânime. Do futebol na rua, pega-pega, namoradinho da escola, das bonecas, dos assaltos nas casas dos amigos, um avô, uma avó...

Saudade é coisa boa. Quando a saudade é da infância.

Depois da infância vem a saudade do amor. Quer dizer de um amor. Homem ou mulher.

Esta saudade é coisa ruim, porque a maioria dos saudosos lembra com amargura. Ou porque foram traídos, ou porque foram trocados, esquecidos, abandonados, enganados, não correspondidos, sacaneados.

Neste caso, os especialistas alertam. Saudade pode fazer mal à saúde.

De acordo com o psicólogo e terapeuta familiar, Laerte Leite, a saudade pode trazer o isolamento, a solidão, a depressão. “Quando você é muito apegado a alguém e perde ou se afasta dela, tudo mais perde a importância. E isso se agrava quando o indivíduo não consegue recuperar o vínculo com este alguém. Aí vem o isolamento, a solidão. Isso faz mal”, comenta.

Mas, vamos ser adultos um pouquinho e fazer da saudade algo de bom, mesmo que originalmente, seja complicado.

Digo isso porque, em minhas pesquisas, entendi a razão que leva todo mundo a defender, ferrenhamente, a origem brasileira da palavra saudade. Como vocês puderam ler no caput deste texto, do latim ao português, sempre existe algo que é ou parecer traduzir a palavra saudade.

Apesar de ter sua origem relacionada a chegada dos negros escravos ao Brasil de outrora, que sentiam muita falta dos seus e chegavam a morrer nos negreiros, sufocados com esse sentimento que os consumia e os afastavam de suas casas, famílias, tribos e sonhos, a saudade cabe no coração e na vida de qualquer um, mesmo que ninguém consiga explicá-la.

A morena-mulata-cabocla-mestiça que vos escreve sente saudade de andar de calcinha na rua e não ser vista como devassa; brincar com os meninos e não ser tida como lésbica; comer doce de mamão com coco e não temer ficar gorda; usar um shortinho apertado e não se sentir ridícula; das brigas com minha mãe que reforçavam o amor dela por mim, dos dias que ficava em casa trancada com meu irmão e sempre apanha; do meu primeiro beijo na boca, meu primeiro amor, meu único ex-marido, do tempo da escola, faculdade, antigos trabalhos...

Viu, eu mesma, sinto saudade.

E tu, sentes?

Ah!!! Detalhe... saudade a gente pode matar... literalmente.

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Excelente!!!!! 10!!!! não 100!!!! não 1000!!!! também não 100.000!!!! Vc tem um talento maravilhoso para escrever! que Deus continue a te abençoar desta forma! Vc sempre será a nossa jornalista nº 1!!!!!!!!
Palavra de Pastor Coruja!!!!!!
Um abraço de toda a família Chaves!!!!!
P.A.

12:27 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Adorei este breve ensaio sobre a saudade, também
"cultivo" as minhas...
Abraço
Mariana

12:28 PM  

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