18 agosto 2006

Gilberto Gil, Marechal Deodoro e a imprensa alagoana

O município de Marechal Deodoro, primeira capital alagoana ainda no século XVI, foi tombada ontem (17 de agosto), pelo Ministério da Cultura como Patrimônio Nacional.

A visita do Ministro da Cultura, Gilberto Gil, marcou a ocasião que além de festiva, deixou os deodorenses e alagoanos com muito orgulho.

Mas, o dia festivo foi um dia de trabalho pra mim. Em especial pelo fato de ter tido a oportunidade de fazer reportagem televisiva, coisa que nunca fiz.

Tive boas e más impressões ontem. Fiquei desencantada com alguns profissionais da área e feliz por reencontrar amigos de labuta que, por não está dia-dia com eles, não tenho contato sempre.

Guardei as impressões para refletir agora.

A cidade e a imprensa, da qual eu fazia parte ontem, aguardavam ansiosas a chegada do Gil. Nesse ínterim, pude trocar figurinhas, fazer contatos e falar de trabalho, projetos e sonhos com meus colegas.

O ministro chegou. Entraram em cena a ações éticas e profissionais.

O cenário foi a sede da prefeitura municipal.


Chovia e, tanto convidados, autoridades e imprensa, estavam apertadas em um hall colonial. Ao entrar no prédio, que um dia foi palácio, o ministro sorriu para todos, posou para fotos e subiu para um pavimento, exclusivo para autoridades locais, onde seria firmado oficialmente o tombamento.

Uma jornalista fez o câmera furar a segurança. Até aí nada de mais, ela poderia ter um furo de reportagem, quem sabe. O problema foi o seguinte: os demais jornalistas quase foram presos por terem se irritado e indignado com a situação. Como os colegas perceberam que ela foi ao encontro do ministro e deixou os demais para trás, ninguém quis perder a oportunidade de filmar, fotografar ou falar com Gil.

A chapa ficou quente, como diz a garotada. O tumulto foi curto, mas valeu para perceber como se age em dia de repórter com pauta quente. Mas, vamos adiante.

A assessoria do ministro exigiu que a coordenação do evento não liberasse o acesso aos lugares fechados que o Gil tinha que passar em sua visita.

Agora o cenário é a Praça Central.

Um jornalista de veículo impresso, aproxima-se do cordão de isolamento que dá acesso ao palco onde estão o ministro e os outros personagens secundários do evento de tombamento de Marechal.

“Ei amigo, como faço para subir aí”, disse o tal jornalista, que enquanto puxava e exibia o crachá do veículo, se jogava contra o cordão de isolamento.

Fiquei horrorizada! Senti na fala do “profissional de imprensa” que ele queria mais do que intimidar o tal guarda com um crachá... estou falando de suborno, mesmo! Se esta não foi a intenção, deixou de ser com a resposta do guarda. “Sei não, amigo”, com desdém.

E as horas estão passando, a programação está atrasada, faz um calor escaldante e eu, ainda estou entusiasmada.

O cenário é o Museu de Artes Sacras.

Hora da coletiva. Agora é a vez da imprensa. Fui a primeira a chegar e sentei exatamente na cadeira em frente a do ministro. É certo que eu não ia fazer nenhuma pergunta, mas eu queria ficar ali, sentada bem em frente a o Gil, oras. Afinal, era minha primeira coletiva.

Quando os colegas chagaram, acomodaram-se e a assessora no ministério deu as cartas. São 20 minutos e pronto. Pra mim tava ótimo, eu não ia perguntar nada mesmo... bem, pelo menos na ocasião da coletiva.

Gil foi simpático mas me passou incompetência administrativa. Para todas as respostas, ele jogava a “bola” para a sociedade e para iniciativa privada. Será mesmo que a cultura é de responsabilidade única destes dois personagens sociais?

Enfim, o tempo acabou e as sonoras para rádio e tv foram liberadas. Eu quis perguntar, mas não tinha noção do quê... estiquei-me toda para acompanhar as perguntas dos colegas. Fiquei surpresa quando meu microfone foi arrancado da minha mão.

A causa era nobre. Um jornalista melhor posicionado, que não tinha nada em mãos, pegou meu microfone e, gentilmente, colocou “ na boca” do ministro. Agradeci.

Durante o papo mais informal, entretanto mais direcionado, consegui finalmente fazer minha pergunta... que para meu espanto, ele deu a resposta enfática, além de ficar fixado em meus os olhos por uns bons minutos... continuei achando-o evasivo, mas ganhei o dia. Minha primeira coletiva tinha sido um "sucesso".

A comitiva continuou a visita ao museu e eu saí para pegar alguma imagem dela saindo da igreja vizinha ao museu.

Cenário é a igrejade Santa Madalena. Situação é inusitada.

Gil sai ao lado do governador do Estado. Dois fãs se aproximam do artista ministro e... pose para foto em autoretrato!!! Mas o governador não ia deixar isso acontecer.

Epa... o não acontecer não é negativo. O governador foi próprio fotógrafo! Se ficou bom ou não o enquadramento, eu não sei, mas Gil ficou satisfeito com a atitude. Será que isso rende outras verbas além de R$ 3 milhões para o restauro do patrimônio arquitetônico e R$ 300 mil para restauro do teto da tal igreja?

Meu dia não acabou aqui... mas estas percepções sim...

Ainda era metade da jornada e eu estava exausta e confusa. O entusiasmo já tinha ido "pras cucuias".

Num intervalo para almoço, ouvi uma filarmônica e meditei sobre atitudes éticas e antiéticas e percebi que elas andam juntas e esperando apenas um lapso do autor para virem à tona.

Gostaria de, audaciosamente, dar um conselho. Mesmo profissionalmente, sejamos pares e não dispares. Sejamos companheiros e éticos para que possamos ser merecidamente reconhecidos.

Meu dia de trabalho terminou à 23h50 e a última imagem que tenho forte no pensamento é de maestro de 78 anos, lúcido, que tocava My heart will go on em um sax soprano, em frente a Igreja da Matriz.

Ah! Ninguém vai ver minha reportagem na tv.

Por hoje é só.

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