27 janeiro 2007

Fotos - Nos Trilhos

26 janeiro 2007

Crônica - Nos trilhos

Por Adriana Thiara

Francisco Silva, Seu Chico, 47 anos, maquinista, ferroviário desde os 22 anos, chefe de família, pai de três filhos, tirou dos trilhos o sustento e a experiência que tem na vida.

Antes de continuar a contar um pouco da história de Seu Chico, preciso rapidamente localizar você, caro leitor, cara leitora.

Há menos de um mês, iniciei meu estágio acadêmico na Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Estou lotada na Gerência de Comunicação e Marketing (GECOM) da Superintendência de Trens Urbanos de Maceió (STU-MAC). E se não fossem as inúmeras siglas desta instituição, tudo seria bem mais fácil.

Como todo novo colaborador, eu fui convidada a fazer uma visita técnica na via permanente (termo técnico dado aos trilhos). Prontamente aceitei.

Na tarde de 25 de janeiro de 2007, embarquei na composição (termo técnico do trem), carinhosamente batizada em 2006, de Estrela Radiosa, uma simples homenagem ao Hino do Estado de Alagoas como forma de reconhecimento ao povo alagoano.

Eram 14h15, estava atrasada, mas tive tempo de sobra para assinar o ponto, conhecer o Centro de Controle de Maceió (CCM) e o Pedro, exímio manobrador que usa seu Equipamentos de Proteção Individual (EPI) completo.

Duas buzinas seguidas, faltam cinco minutos para a saída do trem. Uma buzinada longa, hora da partida e lá vamos nós, na locomotiva. Um privilégio para poucos.

Ao lado dos maquinistas Gouveia e Seu Chico fui orientada a colocar parte do meu EPI e seguimos rumo à Lourenço de Albuquerque, a última parada do trem urbano de Maceió. Tudo meio desconfortável. Do barulho ao sacolejo. Nada que em algumas viagens não se perca.

Da estação Maceió à estação Lourenço são 32km de via, 15 estações, ou melhor, 7 estações e 8 paradas, uma hora e meia de balanço, mais de 8.000 pessoas por dia, muitos rostos, muita imprudência, muito lixo, belas paisagens...

Preferi apenas ouvir na ida. Ouvi muito.

Desejei ser jornalista na volta. Mas nem precisava desejar...

Aos poucos fui “puxando” conversa e retirei daquele maquinista, Seu Chico, a essência do ser ferroviário (termo técnico para os colaboradores da CBTU). Na simplicidade de Seu Chico, que até se candidatou a Deputado Estadual nas eleições de 2006 com o nome de Chico Maquinista, entendi que um dos segredos da felicidade está em fazer o que se gosta, de verdade.

Na ida, ouvi Seu Chico falar de como eram os trem em Alagoas. “Ah! Eram muita lenha para o trem andar. Precisava de uns três homens para o trem parar. O maquinista dava um toque e eles giravam um volante bem rápido. E quando chovia?! A gente colocava areia no capacete, porque naquele tempo usava capacete, para o trem poder andar”, comentou.

Na volta, quis saber mais sobre isto.
- E o senhor, trabalho no trem movido à lenha? Perguntei.
- Eu não, mas vi muitos. Eu que não queria, o povo era escravo. Ele riu.
- E como o senhor sabe destas coisas?
- Meu pai era ferroviário.

A paixão do pai passou para o filho, que começou sua carreira de ferroviário como carregador para trem de carga, tornou-se maquinista e não pensa em se aposentar.
- Se eu pudesse, ficava trabalhando aqui até andar de bengala.
- Oxe! E o senhor vai empurrar a manilha e balançar a bengala? Tirei uma “onda” com ele.
- Eu vou. Respondeu Seu Chico muito seguro de si.

Há quem diga que existe trabalho chato, mas para estes, Seu Chico tem uma lição:
- Meu sonho é acompanhar a tecnologia. Pilotar um trem bem moderno.

Nos trilhos de Seu Chico, quero aprender a pilotar minha vida, acelerando um pouco nas retas, reduzindo um pouco nas curvas, ser ligeira na hora de amarrar (termo técnico para o movimento de freios que trem faz para ficar equilibrado), atenta e ágil para não deixar o meu trem descarrilar.

Ainda era claro quando regressamos à Estação Maceió. 17h55. Estava imunda de poeira e graxa.

Quer saber o que Seu Chico me propôs?
- Agora você tem que viajar como passageira, às 12h, com sol forte, calor, no meio do povo. Ah! E não tirar o pé do lugar, porque senão, perde a vaga.

E... Agora quem tirou uma “onda” comigo foi ele.

24 janeiro 2007

O Jornalismo, por Ali KamelAli Kamel (*)

"Melhor que o texto foi a discussão sobre a função do jornalismo, a política editoral dos veículos Globo, teoria do agendamento, ética e suas vertentes. Leiam o texto e pensem sobre o tema!" Adriana Thiara



Fonte: www.comunique-se.com.br em 23 de janeiro de 2007

O ano que passou foi especialmente indutor de uma discussão que precisa ser enfrentada: o jornalismo é um campo de batalha de ideologias ou é uma forma de conhecimento da realidade? Já com alguma distância das eleições, que acirraram esse debate, a discussão pode ser travada com menos paixão.

No calor daqueles dias, pairou a idéia de que só existe jornalismo de tendências, uma imprensa de direita e uma imprensa de esquerda, uma tentando mais do que a outra impor as suas idéias. Não estavam em questão apenas os editoriais, mas o fazer jornalístico propriamente dito: a produção de notícias. O jornalismo estaria condenado a ser um campo de batalha de ideologias, estaria a reboque delas ou, pior, a serviço delas. Os jornais (impressos, digitais, radiofônicos ou televisivos) seriam feitos de acordo com os valores de seus donos e dos jornalistas que para eles trabalham. Para provar o que seria o óbvio, os partidários dessa tese lançavam mão de postulados filosóficos como se fossem platitudes: a verdade é inalcançável, isenção é uma utopia, não existe objetividade total. Assim, os jornais seriam feitos segundo as suas verdades e de acordo com os interesses de seu grupo. Os fatos seriam escolhidos, não por critérios de relevância mais ou menos reconhecidos por qualquer bom profissional, mas conforme os valores de quem escolhe. E ganhariam pouco ou grande destaque, seriam narrados e analisados dessa ou daquela maneira, segundo aqueles mesmos valores. Como quem pensa assim não se permite dizer "e o público que se dane", o remédio sugerido por eles seria de uma simplicidade atroz: basta que o público conheça claramente a posição de cada jornal para que escolha aquele que melhor representa sua verdade.

Ocorre que, se fosse assim, não existiria jornalismo, mas apenas publicidade. O objetivo dos jornais seria a cotidiana busca de adeptos de uma determinada visão do mundo. Fariam, então, propaganda; propaganda política, mas propaganda.

E os jornais estariam mortos ou definhando. A sociedade não teria como se mexer, como andar: se não há verdade, se só há um relato de esquerda e outro de direita, como falar em fatos? Viveríamos numa sociedade sem referencial, num mundo de versões.

Nada disso. O jornalismo é uma forma de conhecimento, de apreensão da realidade, segundo um método próprio que, se seguido corretamente (e não são muitos os veículos que se esforçam por segui-lo), leva ao relato e à análise dos fatos com fidelidade. Muitos pensadores brasileiros pensam assim, mas, aqui, não quero citá-los, porque, embora concordemos com esse postulado geral, a partir dele os caminhos são bem diversos (e, assim, não quero correr o risco de que o leitor pense que me apóio na autoridade deles para corroborar o que aqui escrevo).

Diante de uma miríade de acontecimentos, os jornalistas são treinados para discernir que fatos têm relevância e narrá-los e analisá-los de maneira lógica e isenta. Isso implica acolher na análise os diversos pontos de vista, pois a pluralidade é regra geral em tudo o que se faz em jornalismo, inclusive nas páginas de artigos, que devem espelhar as tendências da sociedade. Opinião própria, apenas nos editoriais e sem repercussão no noticiário. Pode haver, portanto, jornais de esquerda e de direita, mas no que se refere a suas opiniões expressas em editoriais, jamais contaminando o noticiário, em nenhuma hipótese influenciando o que deve ou não ser noticiado. Como toda obra humana, o jornalismo está também sujeito ao erro, e erra em quantidade. A regra é a transparência: reconhecer o erro e corrigi-lo.

A prova dos nove de que isso é possível é a comparação entre jornais diferentes. Se compararmos o Los Angeles Times, o Washington Post e o New York Times, que têm linhas editoriais muito distintas, notaremos com facilidade que é muito parecida a cesta de assuntos oferecida aos leitores. Se excluirmos os assuntos locais, a mesma comparação pode ser feita entre os três americanos e o El País, da Espanha, o La Repubblica, da Itália, e o Daily Telegraph, do Reino Unido: a coincidência também será grande. No Brasil, o leitor pode verificar que Folha de S.Paulo, Estado de S. Paulo e O Globo, jornais com poucas afinidades e concorrentes ferozes, destacam sempre mais ou menos os mesmos assuntos. Não é falta de criatividade: é que os jornalistas que neles trabalham, profissionais treinados, sabem reconhecer num enxame de fatos o que é relevante e o que não é.

Mesmo o chamado jornalismo de opinião, em que o jornal ou a revista noticia os fatos, opinando todo o tempo sobre eles, se bem-feito, não se confunde com o que chamei de publicidade. Porque, neste caso, os veículos devem procurar ser isentos e plurais no relato e análise dos acontecimentos, mesmo que ofereçam ao leitor, ao lado da informação, o seu próprio ponto de vista.

Sim, se nem a ciência consegue alcançar a verdade e a objetividade total, como o jornalismo faria essa mágica? Não faz. Como a ciência, o jornalismo é uma aproximação da realidade, mas a melhor que se pode obter naquele instante com o instrumental disponível. É certo que um episódio - o apagão aéreo, por exemplo - daqui a 50 anos vai ser contado e analisado por historiadores com acesso a um material que os jornalistas não conhecem hoje: documentos secretos, atas de reuniões, depoimento dos envolvidos dado muito tempo depois. Daí emergirá um relato mais acurado do que o que os jornais conseguem fazer hoje. Mas os próprios jornais serão usados como fonte da História porque eles conseguem o que historiador algum será capaz de fazer sem eles: capturar o sentimento de uma época. A manchete "gritada" sobre o apagão é ela própria, em sua forma, uma informação: dá conta da perplexidade que a sociedade vive naquele instante. A diagramação do jornal, a hierarquização das notícias, as fotos, são todos eles recursos que informam. Que ajudam a conhecer a realidade. E são próprios apenas ao jornalismo.

Como obter o máximo de objetividade e isenção em jornalismo é o que pretendo discutir no meu próximo artigo.

(*) Ali Kamel é jornalista. E-mail: ali.kamel@oglobo.com.br.

22 janeiro 2007

Currículo de Pesquisadora

Seguindo a recomendação da amiga, jornalista e mestra em antropologia daimagem, Karla Melanias, atualizei meu currículo Lattes.

Para acessar:

http://lattes.cnpq.br/4935946410790184

19 janeiro 2007

Para Beto...

11 janeiro 2007

Crônica - Lição da Lua

Por Adriana Thiara

Era noite de domingo. O primeiro domingo de 2007. Noite nem escura e nem clara. Mas eu não tinha me dado conta disso ainda até em que minha mãe gritou. Um grito baixo, abafado, discreto demais para um grito. Mas, um grito é sempre um grito.

Tive medo. Abri a porta do quarto e fui ao seu encontro. Deparei-me com ela a contemplar a beleza do céu cheio de nuvens. Fiquei parada. Sem entender. Admirei também o céu escuro, porque estava escuro naquele momento.

Então minha mãe soltou.
- Você precisa ver a que coisa linda a lua querendo sair dessas nuvens.

Subitamente compreendi porque o grito não era um “griitttoo’ e o porque ela ficou fascinada com o céu escuro.

Não sei quantos segundo ficamos juntas, de mãos dadas esperando o vento afastas as nuvens da lua, cheia, dourada, linda, dona da noite, mas ao fixarmos os olhos no céu de lua, ficamos gratas a Deus pelo dom da visão.

Como foi bom poder apreciar os raios de luz furando as nuvens. Ora noite clara, ora noite escura. Naqueles instantes de contemplação, esquecemos do passado e pensamos no futuro, que nos é incerto, que acabara de chegar em mais um novo ano que se descortinará ao longo de uns 358 dias que estão por vir.

E...

Cremos, mais do que nunca no poder de Deus sobre todas as coisas. Tiremos a nossa lição após a percepção daquele cenário. E foi assim:

Na vida, existem situações que em ficamos amedrontado com o abismo que estamos prestes a cair, mas em meio a escuridão sempre haverá uma luz, a Luz, que insiste em nos guiar para longe do perigo. Esta Luz é Jesus que venceu o mundo com o amor e quer nos enche de vida e paz.

E de repente, aqueles segundos de observação da lua nos pareceram a nossa própria história de vida, de tristezas, realizações, dúvidas, sucessos, fraquezas, desejos, sonhos, expectativas e também...

O fim da crônica, o começo de um novo ano, para começar tudo de novo e apenas contemplar.