14 fevereiro 2007

Dia Internacional do Amor

por Adriana Thiara

Estava saindo para o almoço na manhã desta quarta-feira, 14 de fevereiro, quando uma amiga me fez uma pergunta instigante.
- Thiara, hoje é dia do Amor. Não vai fazer uma crônica, não?
- Como é, menina? Dia do quê?
- Dia Internacional do Amor.
- Ah... Valentine´s Day. Lembrei. Coisa de americano.

Mas depois desta provocação fiquei pensando sobre o que escrever no Dia Internacional do Amor. Poderia narrar uma desilusão, um amor avassalador que tive ou que ouvi falar, talvez escrevesse sobre namoro real e virtual, uma noite de sexo e loucura ou sobre chifes, traições, orgasmos e afins.

As horas foram passando...

E depois que li uma matéria publicada hoje, no portal Meio & Mensagem, veio a inspiração. Este era o primeiro parágrafo do texto.

“O publicitário Nizan Guanaes, presidente da Africa, criou dois spots com o tema ’Nós não vamos fazer nada?’, uma resposta ao assassinato do menino João Hélio Fernandes, na semana passada, no Rio de Janeiro”.

Dia Internacional do Amor...

Que piada!
Tinha que ser invenção de americano mesmo.

Caro leitor, cara leitora, defina o que, para você, é AMOR?

5... 4... 3... 2... 1...

Tempo esgotado!!!

Escolhi a melhor definição de amor que já ouvi, li e vivi na vida.

“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará. O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece. O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará; Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor.” I Corintios 13.1-4,8,13

Ainda parafraseando a Bíblia, “Contra isto não há lei”.

Agora, convido você, leitor ou leitora, a refletir também sobre sentimentos e atitudes relacionadas ao Amor, tais como irmandade, solidariedade, companheirismos, senso coletivo, ética, moral, humildade...

Acredito que a sociedade pós-moderna criou um esteriótipo comum o qual todos são individualistas e, muitos disseminam isso, como uma verdade absoluta. É evidente que, assim como não somos perfeitos, também não somos amorosos, sempre, mas se o amor fosse um princípio, cultivado e doado, ao invés de ensinado e exigido, teríamos menos problemas de relacionamento pessoal, familiar, profissional, fraterno, conjugal e sexual. Longe de mim, querer ser analista, mas pense nisso e conclua você mesmo.

...

Neste momento, faltam menos de cinco horas para o Dia Internacional do Amor acabar, mas temos a vida toda para fazer do amor a razão de nossas vidas e motivo das nossas atitudes.

O Dia do Amor é todo dia e só depende de nós para isso acontecer. E... Nós não vamos fazer nada?

“A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós”. II Corintios 13.13

13 fevereiro 2007

Eu vi o Saci Parerê

por Adriana Thiara

Em época de folia de Momo, além dos preparativos para aproveitar a festa, muita gente se depara com cenas incríveis, parecidas com a que eu vivi no último domingo, 11 de fevereiro.

Em Alagoas, o carnaval tradicional há tempos, foi substituído pelas prévias carnavalescas, que levam multidões às ruas, principalmente de Maceió. Essas prévias, incluem desfile de blocos carnavalescos, desfile de escolas de sambas e, o que vai ser o pano de fundo desta crônica, o concurso de bumba-meu-boi.

Meu amado irmão é um executivo cultural. Quase administrador de empresas, meio empresário de banda de forró pop e organizador de boi de carnaval, Andreine Thiago tem 23 anos e um talento inexprimível para arte popular. O menino canta, dança, sapateria, borda, toca, ganha dinheiro, tudo isso em nome de uma tradição folclórica, neste caso o Boi Lacrau.

Este ano, como já está sendo de costume, a turma do Boi Lacrau, tricampeão no concurso de bumba-meu-boi de Maceió, teve a brilhante idéia de homenagear outro ilustre autor. Depois de um belo carnaval dedicado ao alagoano Jorge de Lima, em 2006, Monteiro Lobato e seu mundo mágico Sítio do Pica-Pau Amarelo foram contemplados, este ano.

A saber, os bumba-meu-boi de hoje, diferente dos de antigamente, estão estilizados, ricos, brilhosos e caros.

Mas, com o tema delimitado e muitas idéias na cabeça, o grupo com cerca de 20 jovens, começou a produzir a roupa do boi e o figurino para a turma Sítio. Aí vem a melhor parte... Neste mundo mágico de Monteiro Lobato, ninguém faltou. No ensaio geral horas antes da apresentação, os personagens se reuniram bem em frente a minha casa e o impossível, para mim, aconteceu.

Eu vi o Saci.
Isso mesmo.
Eu vi o Saci.

Se era o Pererê ou não, eu não sei, mas depois que ele vestiu o macacão e o gorro vermelho de cetim que minha mãe, convocada mais uma vez como a costureira oficial do Lacrau, brilhantemente fez, ele ficou o Saci Pererê. E duvido que Lobato também não acreditasse que o Jerônimo era o arteiro Pererezinho.


O saci Jerônimo tem 18 anos, é um jovem humilde, ajudante de vendedor de acarajé na orla de Maceió. Jerônimo perdeu a perna aos 10 anos. Ele estava subindo em um ônibus, quando escorregou, caiu e o coletivo passou em cima de sua perna direita. Trágico, não?

Jerônimo não acha mais. Hoje ele é um cara separado, tem uma filha de sete meses, bate um bolão com a turma na praia, vai trabalhar de bicicleta e arrumou um bico de Saci Pererê nesse final de semana. "Sou um cara feliz e comum", disse ele, antes de pousa para uma foto que eu tentei fazer com minha câmera "fubenta" que falhou na hora H. Mas ainda sim, registrei o Jerônimo de Saci, graças ao celular no empresário bumba-meu-boilístico, Andreine. Ah... mas até agora não descobri como baixar a foto.

Ah!!! Não houve concurso este ano. Além de muito estilo e exuberância, os bois de carnaval trazem consigo outra grande interferência da pós-modernidade, a violência. No dia anterior, houve o concurso para a categoria mirim e um grupo de vândalos ameaçaram um dos jurados de morte, por ele ser incompetente. Pobre coitado!!! Músico por formação e pós-graduando em Música é muito incompetente, pode?

Mesmo assim, ao som de um pifeiro e da bateria nota 10 do Boi Lacrau, os meninos amantes do bumba-meu-boi de carnaval entraram na arena, armada no bairro de Jaraguá, com um grande espetáculo, que eu não vi, mas que milhares de olhos admiraram e os premiaram com o título de campeão 2007 do Concurso.

E antes da festa acabar, o Saci Pererê de uma cambalhota... INCRÍVEL!

07 fevereiro 2007

Jornalismo e objetividade, por Ali Kamel (*)

Fonte: O Globo e Comunique-se

No meu artigo anterior, defendi a idéia de que o jornalismo é uma forma de conhecimento, uma maneira de apreender a realidade. Afirmei que, diante de uma miríade de fatos, os jornais, seguindo um determinado método, são capazes de escolher o que é relevante. E que é possível fazer isso com um grau aceitável de objetividade e isenção (embora não sejam todos os veículos que se esforçam para tal). O artigo era uma resposta àqueles que acham que existe apenas um jornalismo de tendências, e que tudo, editorial, páginas de artigos e noticiário em geral, é produzido segundo os valores e as crenças dos donos dos jornais e dos jornalistas que para eles trabalham. Afirmei que quem pensa assim se justifica sempre se escorando em platitudes filosóficas: a objetividade é um mito, a verdade é inalcançável etc. Se fosse assim, o jornalismo não retrataria nem analisaria fatos, mas apenas a visão que grupos têm deles. Eu disse que um jornalismo produzido assim não seria jornalismo, mas publicidade, propaganda, porque teria como objetivo não informar, mas conquistar almas, adeptos, seguidores. O jornalismo seria apenas um campo de batalhas de ideologia. Embora reconhecesse que o jornalismo não consegue ser 100% objetivo, eu disse que, se bem-feito, consegue uma aproximação da realidade, a melhor para aquele período histórico e a partir do instrumental e dos recursos disponíveis. Prometi tratar hoje de como isso é possível. Vamos lá.
O compromisso com a isenção é formal e deve ser uma busca consciente de todos os jornalistas: deve-se sempre conscientemente, tentar despir-se de seus preconceitos, de suas certezas, de suas paixões, mesmo sabendo que isso não é realizável totalmente. Se em jornalismo não se tem o tempo necessário para se fazer crítica aos próprios valores, que um antropólogo ou um sociólogo fará antes, durante e depois de qualquer pesquisa, isso não quer dizer que o jornalista deve relaxar seu autocontrole e deixar que suas crenças e seus preconceitos contaminem o seu trabalho cotidianamente. Deve-se sempre evitar evitar idiossincrasias (“esse tipo de assunto eu não noticio”, “fulano não merece uma linha de jornal”, “esse cara é um escroque, merece mesmo apanhar”). Um bom exercício é tentar abrir sempre espaço a quem pensa diferente, a quem aparentemente está errado, a assuntos de que o jornalista não gosta. Esse é o ponto de partida, o básico, aquilo que está em todo manual. Mas se sabemos que isso na prática não é realizável em 100% do tempo, se somente uma máquina ou um santo conseguiria o autocontrole desejável, isso quer dizer que o jornalismo estará sempre longe da isenção e da objetividade?
Não, porque o processo mesmo de produção de notícias tem mecanismos que ajudam a evitar desvios inconscientes ou propositais. Como o jornalismo é por definição uma obra coletiva, toma parte de todos os processos e de todas as decisões uma multiplicidade de cabeças, cada uma com seus valores individuais, seus preconceitos, suas tendências. Um preconceito tende a anular o outro, uma decisão enviesada tende a ser revista ao longo do dia pela reação de colegas que pensam diferente. Não se trata de uma discussão eterna ou de uma guerra sem fim, mas de um processo natural, de que poucos se dão conta conscientemente. Mas que existe. Quando um fato chega à redação, é muito comum que se ouça de primeira um “isso não vale” para, logo a seguir, ver-se instalar uma discussão rápida, mas intensa, sobre se “isso vale ou não vale mesmo”, num debate extremamente produtivo. Em redações saudáveis, sem a presença de editores idiossincráticos, o resultado acaba sendo um noticiário mais perto da objetividade possível (e editores idiossincráticos, mostra a experiência, acabam expulsos do mercado, porque a arte de editar é a arte de saber ouvir).
Mesmo que essa vacina natural falhe, porém, outra entra em ação para corrigir eventuais desvios: a concorrência entre empresas jornalísticas que disputam o mesmo público. O que um jornal não dá, por omissão deliberada ou por incompetência, o outro dará (e este outro é o concorrente direto, mas também a internet, o rádio, a televisão). Não existe conluio possível entre empresas jornalísticas que competem entre si. Não existe silêncio coletivo auto-imposto. Se o jornal que pecou ou errou não se corrigir, acaba manchado, fora do mercado.
Quem melhor entendeu que o jornalismo é uma forma de conhecer a realidade, com as características que procurei detalhar até aqui, foi a grande imprensa e o seu público. Este exige dela informações que supõem serem as que mais se aproximam da realidade. Querem conhecer para depois formar opinião. Quando percebe que um jornal lhe solapa isso, deixa de comprá-lo. A grande imprensa há muito entendeu isso. É a única que, de maneira organizada, consegue reunir os recursos tecnológicos e humanos capazes de decodificar a realidade imediata e recodificá-la de modo a ser entendida pelo público. Ela é a única que investe em grandes somas de dinheiro em tecnologia de ponta, cada vez mais sofisticada, para que o jornalismo possa cumprir uma de suas obrigações básicas: informar com rapidez. É também a única capaz de atrair pessoal qualificado e, na ausência dele, de qualificar pessoal de modo a torná-lo apto a desempenhar a sua tarefa.
Se mais não for, trata-se de uma questão de sobrevivência. Grupo de mídia algum trocará a sua reputação de longo prazo, garantidora de sua audiência e de sua credibilidade, e, portanto, de seus lucros, para se imiscuir na vida política da sociedade visando a obter benefícios de curtíssimo prazo. Quem pode fazer isso são experiências “jornalísticas” efêmeras, de oportunidade; mas estas, ao enveredarem por esse caminho, abandonam o jornalismo para praticar algo que, como disse antes, na verdade é apenas publicidade.
Um desses que fizeram essa opção escreveu outro dia: “Ninguém é santo”. Talvez este seja o único ponto em que concordamos. Mas o fato de que somos todos humanos não significa dizer que todos erremos de propósito.

(*) Jornalista.

06 fevereiro 2007

Jornalismo: a objetividade subjetiva, por Felipe Pena (*)

Fonte: O Globo e Comunique-se

O artigo do jornalista Ali Kamel, publicado na página de opinião de O Globo do dia 23 de janeiro, apresenta uma pertinente reflexão sobre o jornalismo na atualidade. Ao defender o argumento de que a profissão constitui uma forma de conhecimento da realidade e não um campo de batalhas ideológicas, o autor parece enveredar pelo caminho correto. Entretanto, gostaria de contextualizar tal linha de raciocínio e propor novas considerações.
Para começar, é preciso não confundir forma de conhecimento da realidade com espelho dessa mesma realidade. Ou seja, não acreditar na ingênua visão de que as páginas do jornal refletem fielmente os acontecimentos cotidianos, sem qualquer interferência em sua construção. O próprio Kamel afirma que o máximo que se pode conseguir é uma aproximação, já que nem a ciência é capaz de atingir a verdade e a objetividade total.
Quero, então, defender a idéia de que o jornalismo participa da construção social da realidade, e isso é muito mais do que um simples instrumento para conhecê-la. Em outras palavras, é no trabalho da enunciação que os jornalistas produzem os discursos, que, submetidos a uma série de operações profissionais e pressões sociais, produzem o que o senso comum das redações chama de notícia.
Entre a infinidade de fatos apurados pelos jornalistas, só alguns serão publicados ou veiculados, levando em consideração critérios como a característica do veículo, suas rotinas de produção e a própria presunção de quem é o seu público. Portanto, estamos distantes da hipótese do espelho descompromissado da realidade.
No jornalismo, a objetividade não surgiu para negar a subjetividade, mas sim para reconhecer a sua inevitabilidade. Seu verdadeiro significado está ligado à idéia de que os fatos são construídos de forma tão complexa e subjetiva que não se pode cultuá-los como expressão absoluta da realidade. Pelo contrário, é preciso desconfiar desses fatos e propor um método que assegure algum rigor ao reportá-los.
Foi com esse espírito que foram criadas as técnicas do lead e da pirâmide invertida na virada do século dezenove para o vinte. Elas substituíram o jornalismo opinativo pelo factual, priorizando a descrição objetiva dos fatos. Conforme deixou claro o jornalista americano Walter Lippmann, que sistematizou essas técnicas em 1920, no livro Public Opinion, "o método é que deveria ser objetivo, não o repórter."
Para concluir, volto à hipótese do jornalismo como campo de batalhas ideológicas, descartada por Ali Kamel. Não é possível defender a idéia conspiratória de manipulação deliberada das notícias em favor desta ou daquela visão política de mundo. Mais do que anacronismo, seria desconhecer o funcionamento de uma redação e menosprezar o leitor. A produção de notícias é planejada como uma rotina industrial, com procedimentos próprios, limites organizacionais e, principalmente, consumidores exigentes, capazes de reconhecer intenções manipuladoras nas reportagens. As normas jornalísticas têm muito mais importância do que preferências pessoais na seleção e filtragem de notícias.
Entretanto, se como venho argumentando ao longo deste texto, a objetividade surge porque há uma percepção de que os fatos são subjetivos, então também podemos concluir que eles são mediados por indivíduos com interesses, carências, preconceitos e, inclusive, ideologias. Nesse sentido, o tal campo de batalhas ideológicas talvez não possa ser totalmente descartado, mesmo que amenizado por um conjunto de procedimentos.
Trata-se de um paradoxo cuja eficiente administração caracteriza o que se pode chamar de bom jornalismo.

(*) Professor de jornalismo da Universidade Federal Fluminense (UFF) e autor do livro Jornalismo Literário.

02 fevereiro 2007

É preciso recuperar a reportagem