26 julho 2007

Das dificuldades e oportunidades

Por Adriana Thiara

Há alguns meses eu venho observando que meu filho, o mui conhecido Yuri Maciel, anda esperto demais. Principalmente depois que seu objetivo é fazer um tão sonhado curso de informática, que eu como boa e prendada mãe, só darei sob a seguinte condição: aprovação ao final do ano letivo, com o atenuante: saber ler, entender e explicar o que foi lido. Uma tarefa muito fácil e que o filho-estudante-desafiado topou sem reclamar.

Mas a boa da semana que é além de estar demonstrando pleno interesse e aptidão nas atividades escolares, este garotinho de sete anos agora virou empreendedor.

O cenário é este:

Onde moramos chimbra* é uma febre. Todos os garotos jogam, ganham, perdem e o seu Yuri, não poderia ficar de fora. Mas o indivíduo em questão tinha dois problemas: 1. não tinha capital para investir em chimbras. 2. as poucas que ele tinha, que foram uma herança da infância do meu irmão, Yuri perdeu no jogo.

O vício é lasca.

Aí entra, o empreendedorismo. Tá duvidando do potencial do pequeno notável, leia o diálogo que tivemos nesta terça-feira, 24 de julho.

- Oi filho, como foi seu dia? Perguntei ao chegar do trabalho.
- Olha o que tenho mainha. Yuri estava com o fundo de uma lata cheio de chimbras coloridas.
- Quem te deu isso, Yuri? Foi seu tio?
- Não. Eu consegui.
- Como?
- Tinha uns confeitos** lá na cozinha. Eu peguei, fui para perto dos meus colegas e perguntei “Quem quer confeito”?
- E eles disseram o que? Perguntei, extremamente curiosa, para saber qual foi a reação dos garotos mais velhos do que ele.
- Eles gritaram e todo mundo quis. Eu mandei fazer uma fila e disse que o preço de cada confeito era uma chimbra.

Eu não agüentei... cai na gargalhada. Uns confeitos super velhos, que estavam guardados há meses, moles, lambuzados e temperados com formiga deram ao meu filho o direito de voltar a figurar no cenário desportivo lá da nossa rua. Nesta rodada de negócio ele fechou com lucro de 29 chimbras.

Se são das dificuldades que nascem as oportunidades de negócios, acho que tenho um pequeno grande empreendedor em casa.

Ontem, 25 de julho, ele me recebeu afirmando já ter 41 chimbras. Isso é que é negócio lucrativo.

Viva as pedras no nosso caminho.

* chimbras – bolinhas de gude
** confeitos – balas, guloseimas, doces

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04 julho 2007

Celebração da vida e morte*

Por Adriana Thiara

Qual a relação que um aniversário tem com um velório?
Enquanto um representa vida, (re)começo, novo, o outro traduz, morte, dor, perda.
E ambos são momentos de celebração... meio previsíveis, litúrgicas, pessoais, evocativas, emocionantes, chorosas e sem dúvida, marcantes.

Hoje, 03 de julho de 2007, é meu aniversário.
Hoje, 03 de julho de 2007, foi o enterro de José Cabral, esposo da minha amiga Lia Fonseca.

Hoje...

Acordei cedo, com um suave e delicioso beijo na testa. Apesar de ter achado péssimo, porque me tirou do estado de preguiça absoluta do “antes de despertar”, fiquei feliz, porque a autora, minha mãe, é minha vida. Levantei assanhada, cambaleando, olhei para Yuri que dormia como um príncipe e comecei o dia.

Permiti-me chegar 15 minutos atrasada, para poder tomar um super café da manhã: sopa e torrada. Tomei banho e senti vontade de sair de casa mais básica do que nunca. Exitei em me vestir de qualquer jeito, pois hoje, 03 de julho, é meu aniversário. Entretanto, vesti uma calça corte faca preta, uma blusa nadador azul marinho, sandália dourada baixa, carreguei comigo um casaquinho preto e óculos escuros para completar o visual. Peguei o ônibus e cheguei a Artecetera, agência onde trabalho.

Estranhamente, às 8h15 de uma terça-feira de sol, a Artecetera estava silenciosa. Cumprimentei a Bella, recepcionista, e o Luis, o novo financeiro da Agência. Como sempre, fui até a Criação, deixei minha bolsa em cima da mesa, falei com dona Rosa, a faxineira, e voltei à recepção, para ler os jornais. Parecia tudo igual se não fosse o aquele silêncio ensurdecedor.

- Seu Cabral faleceu. Disse Bella.

Agora tudo fazia sentido.

Aos poucos as pessoas foram sendo mobilizadas para comparecer ao velório.
Ao mesmo tempo eu atendia os amigos que me felicitavam neste dia.

Hoje, 03 de julho, é dia de reflexão.

Durante toda manhã percebi como é ambígua a relação vida e morte e apesar de ter sido surpreendida com o falecimento de Cabral, que certamente abalou a sociedade alagoana, estava muito confortável, pelo fato de me sentir muito perto de Deus. Contraditório, não?

Mesmo num momento muito delicado como o de hoje, emocionei-me muito com a frase da Lia.

- Logo hoje?!
Ela se referia ao meu aniversário, que acabei sabendo por amigos em comum que ela estava preparando uma surpresa para mim.

Bem... costumo escrever minhas crônicas (http://athiara.blogspot.com) e deixar sempre uma conclusão para os fatos.

Hoje, 03 de julho, é dia de fazer diferente.

*esta é minha homenagem a Lia Fonseca, esposa de José Cabral, empreendedora, forte, linda, fiel e minha amiga.